Evento coloca Paraná na vanguarda da autenticação forense de obras de arte

Encontro de especialistas discutiu a integração de forças nas áreas forenses e artísticas, bem como a criação de um banco de dados para armazenar obras apreendidas

Um dos procedimentos tomados durante a Operação Lava Jato envolveu a apreensão de centenas de obras de arte, que estão no momento sob a guarda do Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba. Essas obras foram apreendidas por, supostamente, terem sido usadas para lavagem de dinheiro e fraude. O Paraná se posiciona na vanguarda da autenticação forense de obras de arte e outros tipos de artefatos de patrimônio cultural. Essa experiência contribui para o avanço de investigações de obras de arte e une profissionais de diversas áreas, como peritos criminais, pesquisadores das universidades e especialistas em arte.

O MON foi a instituição escolhida para guardar as obras apreendidas na Operação Lava Jato, por apresentar as melhores condições técnicas para abrigar e manter artefatos culturais. No total, 350 obras estão no museu.

Na terça (17) ocorreu o evento “Autenticação e Valoração de Peças de Patrimônio Cultural para Fins Forenses”, realizado com a intenção de discutir a necessidade de avaliar materiais culturais e artísticos e averiguar sua autenticidade. O evento foi promovido pela Secretaria da Comunicação Social e da Cultura, pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), pelo Centro de Ciências Forenses (CCF) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pelo Projeto Goia (Guarda, Observação, Investigação e Análise de Peças do Patrimônio Cultural Brasileiro) da Polícia Federal (PF).

Entre os palestrantes, estavam presentes representantes dos setores forenses da Polícia Federal (PF) e pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A discussão girou em torno dos procedimentos de investigação e amparo legal, quanto de algumas das técnicas forenses de análise física e química de autenticação das obras.

Fábio Augusto da Silva Salvador, perito criminal federal em Curitiba e coordenador do Núcleo Goia, relata que: “as peças de interesse são obras de arte, fósseis, artefatos líticos, todo tipo de patrimônio cultural para combater as ilicitudes associadas a isso. Essas peças são muito usadas atualmente para lavagem de dinheiro e ocultação de riqueza”. Segundo ele, a PF tem interesse em desvendar essa criminalidade por meio de metodologias técnico-científicas.

Um dos idealizadores e palestrantes do encontro, Salvador afirma que: “o Núcleo é uma proposta de organização de todos os bancos de dados e de todos os exames técnicos e científicos voltados a peças do patrimônio histórico”.

Objetivo integrado

A integração conta com dirigentes dos museus estaduais do Paraná. O objetivo é construir uma união para apoiar investigações, contando com investigadores criminais, pesquisadores das universidades e especialistas em arte, e junto disso, valer-se do suporte institucional de museus e instituições de guarda.

Segundo Salvador os integrantes do Centro de Ciências Forenses viram a necessidade de fazer uma integração das expertises da PF com as das universidades. “O Paraná está adiante dessas iniciativas, que têm que se propagar para o Brasil inteiro”, disse ele.

O presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo disse que a expectativa é de que isso cresça, melhorando as padronizações para os exames nas áreas e integrando uma rede de informações e conhecimento para fazer intercâmbio de dados.

Para os participantes o próximo passo é a criação de um banco de dados para se ter ações mais eficientes e organizar a atuação nessa área, combatendo aqueles que fazem um mau uso de obras de arte para lavagem de dinheiro e falsificações, segundo Camargo.

Com tantas informações espalhadas pelo Brasil o desafio será conseguir organizar de forma adequada o banco de dados. Por isso é necessário envolvimento institucional federal, estadual e municipal.

Para Marcos Camargo, os museus também representam uma parte essencial no desenvolvimento do projeto, por serem reservas técnicas, e possibilitarem exames adequados. Com isso essa integração vai disseminar para a sociedade a importância do conhecimento técnico-científico sobre o patrimônio cultural brasileiro.