Doulas em Laranjeiras: Kauany Becker e Giane Migliorini relatam os benefícios da prática

Profissionais são responsáveis no auxílio de gestantes durante a gestação, nascimento e no pós-parto

A doula é uma assistente de parto que atua durante a gestação, nascimento e pós-parto. Seu principal trabalho é durante o parto, acompanhando a gestante, oferecendo suporte físico, emocional, informativo e muitas vezes espiritual.

A doula não é parteira. Muitas pessoas confundem, por falta de informação ou preconceito. A profissional não realiza procedimento clínico de assistência ao parto, não afere pressão arterial, exame de toque, nem diagnóstico. Ela não substitui nenhum profissional da equipe de assistência, não interfere na conduta da equipe durante o parto e não substitui o acompanhante afetivo.

Para ser doula é necessário ter mais de 18 anos e não precisa ser enfermeira ou técnica em enfermagem, pois são trabalhos diferentes.

A profissional trabalha com métodos não farmacológicos para alívio da dor, como o rebozo, bola suíça, massagem, aromaterapia, entre outros. A doula não pode fazer nada do que o médico e uma enfermeira fazem, ela dá suporte, principalmente emocional.

Existem cursos presenciais e onlines para se formar na profissão assim como os híbridos. A formação é realizada por meio de cursos livres, com cargas horárias que variam de 60 à 160 horas, dependendo da grade curricular.

Acompanhamento

A doula Kauany Pietra Becker, de Laranjeiras do Sul, conheceu a prática quando teve o seu primeiro filho, Isaque, aos 18 anos. A mãe de Kauany teve partos normais e relatava sua experiência. “Eu pensava muito sobre o pós-parto, porque a mulher fica vulnerável. Estudei, consumi muito conteúdo sobre o processo de gestar e parir. Durante as pesquisas, descobri a doulagem”, destaca.

Kauany procurou uma profissional, mas não havia nenhuma na cidade. Então, escolheu sua médica para acompanhar o parto. “Durante o pré-natal, a mulher passa a confiar em quem a acompanha”.

Segundo Kauany, era comum ouvir que ela não conseguiria passar por parto normal. “Eu não levava isso em conta”, ressalta. “Quantas pessoas querem viver esse momento e não conseguem por medo do que escutam, histórias ruins e falta de informação. Por isso surgiu a vontade de ser doula, para ajudar outras mulheres a realizar este sonho”.

Além de cursos na área, Kauany é formada em Educação Perinatal, que a capacita para o trabalho durante a gravidez, parto e o pós-parto. “No dia do parto, a doula precisa ter um vínculo com a gestante. É um momento de intimidade para o casal, para a família e principalmente para a mãe. A Educação Perinatal busca o estudo desse vínculo, para munir a gestante de informação”.

A doula não prepara apenas a gestante, mas também o pai. Kauany os convida a estarem presentes nos encontros com as mães, pelo menos no último. Ela ensina atitudes que o pai deve tomar durante as primeiras contrações da mulher, a não ir adiantado ao hospital e aconselha como dirigir o carro durante as contrações da gestante.

“Eu dou 10 dicas para o pai no dia do parto. Explico e tiro dúvidas sobre o processo do trabalho de parto, pós-parto e amamentação. Eu falo que o homem se torna pai quando pega o filho no colo. A mulher é mãe desde a gestação”.

Conhecimento e apoio psicológico

Elize Chiele da Silva contratou Kauany como doula durante a gestação de sua filha Melina. Para ela, a diferença é clara desde os encontros de Educação Perinatal. “A gente obtém um conhecimento maior da fisiologia do parto e do processo de nascimento da criança. A doula é um grande apoio psicológico”.

Ela destaca o quanto uma mãe pode ficar insegura e ansiosa durante os preparativos para o parto. “Muitas vezes, até a família, que não tem um entendimento, acaba gerando mais ansiedade. Durante todas as fases a doula está ali, dando o suporte psicológico necessário”.

Para Elize ter uma doula faz toda a diferença na hora do parto. “Ela é importante não só no nascimento e pós-parto, mas para a amamentação. A Kauany me ajudou muito no começo dessa fase. Toda mãe que puder ter uma doula consigo terá uma grande aliada para o tão sonhado parto”, completa.

Segundo ela, Kauany contribuiu com conhecimento. Muitas vezes as mães vão para o hospital muito cedo, o que pode gerar ansiedade na mulher e na equipe, e elas acabam optando por cesária. “Eu pude ficar mais tempo em casa, esperando o momento próximo do parto para ir ao hospital”, relata Elize. “Muitas mães não tem esse conhecimento que a doula tem para passar”.

Primeira doula de Laranjeiras

Giane Migliorini, primeira doula de Laranjeiras, deixou de atuar na área para iniciar a faculdade de Medicina em Santa Catarina. Ela conheceu a doulagem durante uma capacitação como Consteladora em Curitiba. Segunda ela, as mulheres que trabalhavam com gestantes, contavam suas experiências como doulas.

“A ideia de fazer um curso de doula surgiu em 2014, quando uma amiga, gestante na época, disse que gostaria muito de ter uma doula, porém Laranjeiras não tinha nenhuma”, conta Giane. “Pesquisei e decidi realizar a capacitação na área”.

Depois de terminar o curso, ela iniciou seus trabalhos, acompanhando gestantes e partos. Era tudo novidade na região. População e profissionais da saúde desconheciam a prática. “Fiz questão de visitar obstetras e diretores de hospitais. Participei de palestras em cidades vizinhas, como convidada de colegas enfermeiras. Os hospitais de Laranjeiras sempre me receberam muito bem, a equipe era muito receptiva com a minha presença”.

A trajetória de Giane como doula foi marcada com o parto domiciliar de uma amiga. Não havia na cidade uma equipe obstétrica que realizasse parto em casa. Uma equipe de Cascavel foi contratada e Giane seria a doula, para dar assistência até a equipe chegar.

“Ela entrou em trabalho de parto e a equipe não chegou a tempo. Eu acabei assistindo o parto junto com o marido e a gestante. Foi o parto mais emocionante que acompanhei. Sou muito grata a cada mulher que me escolheu e me deixou participar de sua história. Hoje, ao ver as crianças que acompanhei o nascimento, meu coração se enche de amor e gratidão”.